ATRIBUTOS PESSOAIS DA CULTURA DA
HOSPITALIDADE: APLICAÇÃO AOS ESTUDANTES DE ENSINO SUPERIOR EM PORTUGAL
PERSONAL ATTRIBUTES IN THE
HOSPITALITY CULTURE: APPLICATION TO UNDERGRADUATE AND GRADUATE STUDENTS IN
PORTUGAL
ATRIBUTOS
PERSONALES DE LA CULTURA DE LA HOSPITALIDAD: APLICACIÓN A LOS ESTUDIANTES DE
GRADO Y POSGRADO EN PORTUGAL
Adriana Lopes Fernandes[1]
Drielle de Santana Fonseca[2]
Lílian Ponzo Ribeiro[3]
Resumo
Esta pesquisa teve como objetivo compreender se a
formação oferecida pelas instituições de ensino superior
portuguesas, voltadas para a hospitalidade
e gestão hoteleira, é capaz de desenvolver nos estudantes os atributos pessoais
necessários e desejados aos profissionais da indústria da hotelaria.
Relativamente à metodologia, foi realizado um survey com estudantes de gestão hoteleira ou equivalente. O
instrumento utilizado na coleta dos dados foi devidamente traduzido e adaptado
do inglês para a língua portuguesa e distribuído online por meio da plataforma Limesurvey.
A amostra foi composta de 112 estudantes de graduação e mestrado. Os dados
foram classificados e analisados utilizando-se o software IBM SPSS
Statistics. Os resultados apontam que embora haja preocupação das
instituições portuguesas na formação técnica, o escore dos estudantes foi um
pouco abaixo do esperado para profissionais dessa indústria. Concluiu-se que as
instituições de ensino portuguesas, principalmente ao nível da graduação,
precisam criar estratégias capazes de desenvolver nos estudantes atributos
necessários ao trabalho nessa indústria, de forma a evitar um problema já nela
existente, que é a alta rotatividade.
Palavras-chaves: Hospitalidade, Indústria Hoteleira, Atributos Pessoais, Cultura
Organizacional.
Abstract
The
purpose of this research was to understand whether the training offered by the
Portuguese educational institutions focused on hospitality and hotel management
isable to develop in students those personal attributes that are necessary and
desired in the hotel industry professionals. Regarding the methodology, a
survey was conducted with students of hotel managementor equivalent. The
instrument used for the data collection was duly translated and adapted from
English into Portuguese, and distributed online through the Limesurvey
platform. The sample was composed of 112 undergraduate and master's students.
The data were classified and analyzed using the IBM SPSS Statistics software.
The results indicate that, although there is concern of the Portuguese
institutions regarding the technical training, the score of the students was
slightly below the expected for professionals in this industry. It was
concluded that Portuguese educational institutions, especially at the
undergraduate level, need to create strategies capable of getting students to
develop the attributes necessary to work in this industry, in order to avoid an
already existing problem it has, which is high turnover rates.
Keywords: Hospitality, Hotel Industry, Personal attributes, Organizational
Culture
Resumen
Esta investigación tuvo como
objetivo comprender si la formación ofrecida por las instituciones educativas
portuguesas centradasen la hospitalidad y la la gestión hotelera escapaz de
desarrollar en los estudiantes las cualidades personales necesarias y deseadas
a los profesionales de la industria de la hospitalidad. En cuanto a la
metodología, se realizó un survey con estudiantes de gestión hotelera o
equivalente. El instrumento utilizado para recolectar los datos fue debidamente
traducido y adaptado desde el inglés al portugués y distribuido online a través
de la plataforma Limesurvey. La muestra fue compuesta de 112 estudiantes de
licenciatura y maestría. Los datos fueron clasificados y analizados
utilizandose el software IBM SPSS Statistics. Los resultados apuntan que aunque
exista la preocupación de las instituciones portuguesas acerca de la formación
técnica, el score de los estudiantes fue ligeramente inferior a lo esperado
para los profesionales de esta industria. Se concluyó que las instituciones educativas
portuguesas, especialmente a nivel de grado, necesitan crear estrategias para
que los estudiantes desarrollen los atributos necesarios para trabajar en esta
industria, con el fin de prevenir un problema ahí ya existente en la industria,
cual sea la alta rotación.
Palabras clave: Hospitalidad, Industria
hotelera, Atributos Personales, Cultura Organizacional.
O turismo é uma das mais
promissoras indústrias mundiais. No que tange à economia portuguesa, esse setor
tem demonstrado uma crescente expansão, tendo uma contribuição direta de 6,4%
no Produto Interno Bruto (PIB), o que representa 11,3 bilhões de euros em 2016,
segundo dados da WTTC (2016). A indústria
da hotelaria é um dos principais pilares deste setor no país. Segundo o Atlas
da Hotelaria da Deloitte (Deloitte, 2016),
de
2012 para 2016 houve um aumento de 84% no número de hotéis em Portugal.
Essa expansão dos empreendimentos hoteleiros vem
acompanhada por uma progressiva melhoria na qualidade do serviço prestado,
devido ao aumento da competitividade e profissionalização das empresas (Baltieri & Peçanha, 2011). Tal melhoria
nos serviços está diretamente relacionada à capacidade dos colaboradores
de desenvolver suas funções em um nível de qualidade compatível com as
exigências do mercado (Silva, Medeiros, &
Costa, 2006; Dawson, Abbott, &
Shoemaker, 2011), uma vez que esse comportamento é determinante na
satisfação do cliente (Lamonato & Presser,
2015).
Ha, entretanto, uma grande dificuldade por parte
das empresas da indústria da hotelaria em contratar e manter profissionais que
se adequem ao perfil desejado devido às longas jornadas de trabalho,
esgotamento, estresse, oportunidades de desenvolvimento limitadas, baixos
salários e sazonalidade (Baltieri, 2011; Dawson et al., 2011; Lamonato & Presser,
2015).
Dawson et al. (2011), em seus estudos, iniciaram uma discussão sobre
quais seriam os atributos pessoais necessários para que um indivíduo se
adequasse ao ambiente dessa indústria, que segundo os autores, exibe uma
cultura organizacional diferenciada e complexa. Tendo como base esse trabalho, o presente estudo teve como objetivo
compreender se a formação oferecida pelas instituições
de ensino portuguesas voltadas para a hospitalidade
e gestão hoteleira é capaz de desenvolver nos estudantes os atributos pessoais
necessários e desejados aos profissionais da indústria da hotelaria.
Com este estudo, pretende-se contribuir para
análises mais sólidas e consistentes acerca da formação recebida pelos futuros
profissionais dessa indústria, alertando as
instituições de ensino quanto à necessidade de possuir planos de
desenvolvimento que incluam atividades que possibilitem o desenvolvimento dos
atributos e valores pessoais necessários para o desenvolvimento de um trabalho
adequado na indústria da hospitalidade, principalmente para países em que essa
indústria é considerada altamente importante para o desenvolvimento da
economia.
Como contribuição secundária, destaca-se a validação da versão traduzida
do inglês para a língua portuguesa do instrumento desenvolvido por Dawson et
al. (2011) para avaliar se os atributos pessoais de um profissional são
compatíveis com as características e valores exigidos em um ambiente que exibe
a cultura organizacional da hospitalidade. A tradução desse instrumento pode vir a ser utilizada no processo de
avaliação da formação dos estudantes das instituições superiores de países de
língua portuguesa e tambémpela área de recursos humanos dos empreendimentos
hoteleiros nos processos de recrutamento e seleção.
2.1. A indústria
da hotelaria em Portugal
A indústria da
hospitalidade, uma das mais importantes do setor do turismo (Rogerson & Kotze, 2011; Kokt & Ramarumo, 2015), é composta por uma
ampla variedade de indústrias de serviços, incluindo a indústria da hotelaria,
foco deste estudo (Brotherton & Wood, 2008).
A indústria da hotelaria teve, em 2011, uma receita global de 457 bilhões de
dólares, e a previsão para 2016 é de 550
bilhões de dólares, um aumento na receita de quase 100 bilhões de dólares em
cinco anos (Killarney Hotels, 2015). Em
Portugal, ela representa uma parcela significativa do PIB, além de contribuir
para a criação de empregos e estimulação da economia (Deng, 2011; Kokt & Ramarumo, 2015).
O relatório internacional da JLL Hotels &
Hospitality Group (Pera, 2016)
aponta que a indústria da hotelaria
portuguesa tem recebido grande atenção de investidores, principalmente por parte dos
mercados secundários na região EMEA[4]. Segundo os
dados do Instituto Nacional de
Estatística (INE) o número de hotéis no país
quase duplicou entre 2002 e 2012, com um crescimento de 90%, passando de 520
para 988 unidades (Lusa, 2014). De 2012 para
2016 houve outro salto, segundo o Atlas da
Hotelaria da Deloitte (Deloitte, 2016),
sendo que em 2016 registrou-se um número de 1.864 empreendimentos turísticos [5] em
Portugal, aumento de 84% desde 2011, sendo que destes,
1.580 são hotéis.
A indústria da hotelaria é particularmente
diversificada e complexa, principalmente pelo fato de ser um serviço que
incorpora práticas de negócios globais em um ambiente multicultural, por
atender clientes de diversas partes do mundo (Dawson et
al., 2011; Chen et al., 2012). Além disso, ela é considerada bastante peculiar,
pelo fato do produto “hospitalidade” não ser um produto físico, uma vez que é a
maneira pela qual o colaborador presta o serviço de hospitalidade que se torna
fundamental para a satisfação geral do cliente com a "experiência"
que está sendo comprada (Dawson & Abbott,
2011).
Tendo em vista a complexidade
do ambiente e da cultura organizacional dessa indústria, e a importância do
profissional para a satisfação geral do cliente, o próximo tópico terá este
enfoque.
2.2. A cultura
organizacional e sua relação com os
atributos pessoais dos profissionais da indústria da hospitalidade
A cultura
organizacional, de forma simples, pode ser definida como um conjunto de valores
e pressupostos básicos expressos em elementos simbólicos capazes de comunicar e
expressar a visão consensual aos membros da organização (Fleury, 1989). Chen et
al. (2012) apontam que ela pode ser um motor na formação das atitudes e
comportamentos dos colaboradores, pois desempenha um papel significativo na
compreensão dos conceitos de serviço.
Na indústria da
hospitalidade, os valores e pressupostos são delineados por um sentimento de
bem-estar, de fazer com que o outro, no caso o cliente, sinta-se satisfeito,
“em casa”, com o espírito de servir bem o outro, que foi caracterizado como
“The Smile Factory” nos estudos de Kemp e Dwyer (2001). Nessa indústria, a
cultura organizacional tem o importante
papel de fazer com que os colaboradores saibam quais são os objetivos da
organização e dessa forma sejam comprometidos em trabalhar em prol desses
objetivos (Kokt & Ramarumo, 2015).
Um bom exemplo de
empresa que desenvolve uma adequada cultura organizacional para a indústria da
hospitalidade é o Marriott Hotels Group, que mantém sua liderança no mercado,
não por meio das tecnologias, mas por meio de seus colaboradores. Esta rede de
hoteis proporciona a chamada
"experiência organizacional" aos colaboradores, onde se destaca o
prazer de trabalhar em equipe, a criatividade, a inovação e a valorização do
colaborador (Kandampully et al., 2016). A cultura organizacional do Marriott Hotels Group entende os
colaboradores como uma fonte vital de hospitalidade e, assim como proposto por
Schein (1985), cultivam um ambiente que faça com que os colaboradores se sintam
motivados por bons relacionamentos sociais no local de trabalho.
No entanto, nem
todos os empreendimentos hoteleiros agem da mesma forma. A indústria da
hospitalidade é ainda marcada por baixos salários, baixa segurança no trabalho,
longa jornada de trabalho, esgotamento, estresse, oportunidades de
desenvolvimento limitadas e sazonalidade (Dawson et al., 2011; Kokt & Ramarumo,
2015). Essas questões levam à alta rotatividade dos colaboradores, ou turnover
(Baltieri, 2011; Dawson, 2011) e, consequentemente, dificuldade de contratar e manter
colaboradores que consigam assimilar a cultura organizacional da hospitalidade
(Dawson et al., 2011). Oz et al. (2015) afirmam que o tempo de trabalho de um
colaborador na empresa é imprescindível para que o mesmo possa assimilar os
valores da cultura organizacional nessa indústria e proporcionar a
“experiência” desejada pelos clientes.
Na tentativa de
reduzir a taxa de turnover e suas consequências na prestação do serviço,
torna-se primordial definir o perfil dos profissionais desejados e desenvolver
estratégias de gestão de recursos humanos para atrair, reter e garantir
condições e relações de trabalho satisfatórias a esses profissionais (Baltieri,
2011; Dawson et al., 2011; Lamonato & Presser, 2015). Atrair e reter
profissionais capazes de fornecer um serviço excepcional ao cliente deve
ser prioridade para as empresas dessa
indústria, tendo em vista que a relação entre os colaboradores e o cliente tem
uma grande influência na satisfação e lealdade deste último (Deery, 1997;
Baltieri, 2011; Dawson et al., 2011).
Estudos foram
realizados para identificar os atributos comuns diretamente relacionados com o
sucesso de gestores e colaboradores da hotelaria (Gregory, Harris, Armenakis,
& Shook, 2009; Gobara, Rossoni, Kato, Dossa, & Hocayen-da-Silva, 2010;
Dawson et al., 2011), sendo eles: gostar de trabalhar na área de serviços e de
ajudar pessoas, ser receptivo, amigável e caloroso, ser culturalmente
consciente, valorizar a diversidade, ser comunicativo, flexível, tolerante a
erros, entre outros (Leite & Rego, 2007; Gregory et al., 2009; Gobara et
al., 2010; Dawson et al., 2011).
Um dos estudos
mais completos é o de Dawson et al. (2011), que descreve as características e
valores de diferentes stakeholders dentro da totalidade da indústria da
hospitalidade. Segundo os autores, um profissional dessa indústria deveria
apresentar seis atributos principais, quais sejam: princípios, recetividade,
liderança, capacidade de assumir riscos, objetividade e postura (Figura 1).
Esses atributos são detalhados mais à frente neste trabalho, uma vez que são
utilizados para identificar os atributos pessoais dos estudantes portugueses.
Figura 1: Atributos pessoais de um profissional da
indústria da hospitalidade
Fonte: Elaborado pelas autoras (2017)
3. METODOLOGIA
Para concretizar o estudo, foi realizado um survey com estudantes de gestão
hoteleira em Portugal. O instrumento utilizado na coleta dos dados foi proposto
por Dawson et al. (2011), denominado de Hospitality Culture Scale (HCS), que foi
construído a partir de estudos com empresas da indústria da hospitalidade, como
Marriot e Ritz Carlton, e mediante literatura a respeito dos atributos dos
profissionais da hospitalidade.
O instrumento possui duas partes, uma relacionada
aos atributos exclusivos das organizações de hospitalidade, ou seja, a cultura
organizacional da Hospitalidade, e uma segunda parte que identifica as
características e valores de uma pessoa que seria bem-sucedida em um ambiente
de trabalho que exibe essa cultura. A proposta dos autores foi criar uma medida
quantitativa, para que a área de recursos humanos pudesse utilizar como
ferramenta em processos de recrutamento, seleção e treinamento, a fim de
adequar o potencial empregado à cultura organizacional das empresas da indústria da hospitalidade.
Neste estudo, recorreu-se somente à parte do instrumento que mede os atributos
pessoais dos colaboradores.
O instrumento é constituído por 33 itens
distribuídos em seis fatores, sendo:
ü Princípios (10 itens): fator associado a palavras
normalmente usadas para explicar as crenças e valores pessoais de alguém, como:
confiança, honestidade, integridade, veracidade, manter promessas (ter
palavra), crenças e princípios, lealdade, liderança, e confiabilidade.
ü Receptividade (11 itens): fator relacionado à forma
como uma pessoa trata as outras pessoas, inclui comportamentos como ser
amigável e caloroso, ser alegre, saber partilhar, saber servir os outros, ser
sociável, ter confiança nos outros, ser focado, positivo e culturalmente
consciente.
ü Liderança (5 itens): fator associado às habilidades
pessoais que alguém exibe na gestão dos negócios e dos outros. Essas
habilidades incluem ser um treinador ou mentor, um líder natural, ter
pensamento estratégico e ter uma boa visão do negócio.
ü Assunção de riscos (3 itens): fator relacionado aos
aspetos de uma pessoa que assume riscos, que possui características como ser um
tomador de risco, ser aventureiro e assumir riscos calculados.
ü Objetividade (2 itens): fator ligado a
características como ser detalhista e preciso no desenvolvimento do trabalho.
ü Postura (2 itens): este fator está relacionado ao
comportamento geral de alguém, sendo as principais características para esse
ramo ser calmo e possuir baixa ansiedade.
A partir dos 33 itens, divididos nas dimensões
apresentadas, foi elaborado um questionário operacionalizado por meio de 33
afirmações, em que se solicita aos inquiridos avaliar o seu grau de
concordância numa escala do tipo Likert
de sete pontos, variando de (1) “discordo totalmente” a (7) “Concordo
totalmente”. As 33 afirmações estão redigidas de forma positiva (por exemplo,
"Eu sou muito confiante"). O instrumento cria uma linha de base para
indicar se os atributos pessoais e valores individuais de um profissional são
adequados para o contexto da indústria da hospitalidade, apontando que uma pessoa
com escore médio de 5,82 ou superior é adequada para trabalhar nesse contexto.
Para utilização neste estudo, o instrumento foi
traduzido seguindo os procedimentos propostos por Beaton, Bombardier, Guillemin e Ferraz (2000) no intuito de obter
uma versão linguisticamente correta e equivalente à versão original. Os itens
da escala foram primeiro traduzidos para a língua portuguesa, por três
tradutores diferentes oficialmente proficientes em inglês. Em seguida, o
conteúdo das traduções foi analisado e comparado por três pesquisadores (dois
portugueses e um brasileiro), tendo sido produzida uma única versão de consenso
em língua portuguesa que mais se aproximava semanticamente do conteúdo da
versão original.
Essa versão sofreu uma retrotradução para a língua
original, por um quarto tradutor que não conhecia a escala. A retrotradução foi
comparada com a escala original em inglês pelos autores e um profissional
especialista em linguística, a fim de verificar se o significado das perguntas
foi mantido. Essa análise levou a várias correções relacionadas à equivalência
linguística e semântica, por exemplo, “eu sou muito confiável” ficou validado
como “eu sou muito confiante”
Após a tradução, procedeu-se a um estudo-piloto,
com estudantes de variados cursos do Instituto Universitário de Lisboa
(ISCTE-IUL), com o objetivo de avaliar a linguagem e a forma do conteúdo do
instrumento (Maroco, 2014). Os itens da
escala sofreram novamente ajustes, por exemplo, “sou firme nas minhas
convicções e princípios”, que após a verificação ficou estabelecido como “sou
firme nos meus princípios e valores” para que todos os indivíduos fossem
capazes de compreender perfeitamente as afirmativas que compõem o instrumento.
Após realizadas as alterações, o questionário foi
disponibilizado online aos estudantes
dos cursos de gestão hoteleira, ou equivalente, em Portugal, por meio da
plataforma LimeSurvey. Das 12
instituições que ofereciam os cursos em estudo, somente 7 aceitaram participar
desta investigação. Os respondentes tiveram acesso ao link da pesquisa por intermédio do coordenador do curso da
universidade em que estudavam. Inicialmente, os coordenadores foram contatados
por telefone e, posteriormente, foi enviado um e-mail com a solicitação para autorização do estudo e aplicação do
questionário. Após a aceitação por parte dos coordenadores, foi enviado um novo
e-mail com o link do questionário para que fosse disponibilizado para o corpo
discente. A coleta de dados ocorreu entre maio de 2016 e setembro de 2016,
tendo sido obtidas 112 respostas válidas, sendo, pois, esta amostra por
conveniência (Gil, 2002).
A análise descritiva para os 33 itens propostos e a
avaliação das diferenças nos atributos pessoais
entre diferentes grupos de pesquisados, iniciantes e finalistas, por exemplo, foi
realizada com o software IBM SPSS Statistics. Posteriormente, as comparações foram realizadas recorrendo-se aos testes
Mann-Whitney U para duas amostras
independentes ou Kruskal-Wallis H
para amostras independentes, pelo fato de os dados violarem o pressuposto de
normalidade associado aos testes paramétricos da amostra, impossibilitando a
utilização do teste t e do teste F (Oneway
ANOVA). É de se destacar que o recurso aos testes de hipóteses não visa a
generalização à população, mas sim auxiliar na avaliação da magnitude das
diferenças encontradas. Nessa análise foi considerado o nível de significância
de 0,05.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1. Caracterização da amostra
A amostra foi
composta por 112 estudantes, destes a maioria é do sexo feminino (70,5%). As
idades estão compreendidas entre 18 e 46 anos, sendo a média 22,6 anos, com
dispersão em torno da média, medida pelo desvio-padrão (DP), relativamente
baixa (DP=5,20 anos). A metade tem, no máximo, 21 anos. Destaca-se ainda que
apenas 8% tem 30 ou mais anos.
Quanto à
nacionalidade, a maioria é originalmente portuguesa (82%), seguida dos
brasileiros (11%). Relativamente ao local onde vivem, a amostra está
distribuída entre oito conselhos, sendo os mais representativos os de Lisboa
(33%) e Castelo Branco (24,1%), onde se encontram algumas instituições que
participaram do estudo. Tendo em consideração o ciclo de estudo, a maioria
frequenta a graduação (89%). Dos
inquiridos que frequentam a graduação, a maior parte está no primeiro ano do
curso (41%) e dos que frequentam o mestrado a maioria também se encontra no
primeiro ano (75%). No que tange à experiência profissional, somente 22% dos
inquiridos já teve alguma experiência curricular no ramo da hotelaria e 21%
trabalham atualmente no ramo correspondente, assim como apresentado na Tabela
1.
Tabela 1: Descrição da amostra
Amostra |
n = 112 |
Amostra |
n = 112 |
Gênero Feminino Masculino |
71,0% 29,0% |
Ciclo de Estudo Licenciatura Mestrado |
89,0% 11,0% |
Idade 18 a 21 anos 22 a 25 anos 26 a 29 anos 30 anos ou mais |
51,8% 33,9% 6,3% 8,0% |
Ano do curso de Licenciatura 1º ano 2º ano 3º ano |
41% 27% 32% |
Nacionalidade Portugal Brasil Angola Cabo Verde Itália |
82,0% 11,0% 4,0% 1,0% 2,0% |
Ano do curso de Mestrado 1º ano 2º ano |
75% 25% |
Conselho de residência Porto Lisboa Leiria Guarda Faro Coimbra Castelo Branco Aveiro |
12,5% 33,9% 9,8% 6,3% 9,8% 2,7% 24,1% 0,9% |
Condição atual de trabalho
no ramo da hotelaria Sim Não |
21% 79% |
Experiência no ramo da
hotelaria Sim Não |
22% 78% |
Fonte: Elaborado pelas autoras
(2017)
4.2. Análise e
discussão dos resultados
A Tabela 2
apresenta as médias e os desvios-padrão dos 33 itens propostos por Dawson et al. (2011) para medir os atributos
pessoais dos estudantes por fator, em língua original e a tradução para a
língua portuguesa. Nessa tabela, são também apresentados os índices de
confiabilidade, Alpha de Cronbach, de
cada fator. Esse índice verifica a consistência interna dos itens reflexivos
dos fatores. Todos os fatores obtiveram um Alpha
maior que 0,60, considerado mínimo aceitável para instrumentos em
desenvolvimento (Hair et al., 2010).
Ao analisar a
tabela, é possível perceber que a média das respostas encontram-se
compreendidas entre 4,11 (item V33 “possuo um baixo nível de ansiedade”) e 6,20
(item V17 “eu gosto de ajudar os outros”), com dispersão em torno da média
baixa para todos os itens.
Em suas pesquisas,
Dawson et al. (2011) apontam que uma
pessoa com escore igual ou superior a
5,82 teria as características e valores de um profissional que seria
bem-sucedido em um ambiente de trabalho que exibe a cultura organizacional da
hospitalidade. O escore médio dos estudantes que participaram desse estudo foi
de 5,23, um pouco abaixo do esperado para profissionais dessa área.
Tabela 2: Estatística
descritiva para os 33 itens da escala dos atributos pessoais
Fatores |
Itens |
Alpha de Cronbach |
Média[6] |
Desvio
Padrão |
|
Princípios
Média = 5,77 |
V1 |
Eu sou muito confiante I am very trustworthy |
0,836 |
4,79 |
1,27 |
V2 |
Eu sou extremamente honesto I am extremely honest |
5,61 |
1,19 |
||
V3 |
Eu tenho um elevado grau de integridade I have a high degree of integrity |
5,65 |
,95 |
||
V4 |
Eu valorizo a transparência I value truthfulness |
6,09 |
,96 |
||
V5 |
Eu sou conhecido por cumprir minhas promessas I am nown for keeping
promises |
5,80 |
,91 |
||
V6 |
Sou firme nos meus princípios e valores I stand firm on my
beliefs and principles |
5,98 |
1,11 |
||
V7 |
Os outros me descrevem como leal Others describe me as
loyal |
5,98 |
,98 |
||
V8 |
Eu tento liderar dando o exemplo I try to lead by example |
5,73 |
1,00 |
||
V9 |
Eu faço com que meu superior sinta orgulho I
take pride of ownership |
6,03 |
1,04 |
||
V10 |
Os outros dizem que eu sou confiável Others say that I am dependable |
6,08 |
,92 |
||
Receptividade
Média = 5,45 |
V11 |
Outros me descrevem como sendo amigável e
caloroso Others describe me as
friendly and warm |
0,858 |
5,75 |
1,33 |
V12 |
Eu tenho amor pelas pessoas I have a love of people |
5,61 |
1,48 |
||
V13 |
Outras pessoas caracterizam-me como alguém alegre
Other
people characterize me as cheerful |
5,48 |
1,32 |
||
V14 |
Eu sou conhecido por ser uma pessoa colaborativa I am
known for being a sharing person |
5,52 |
1,31 |
||
V15 |
Tenho uma atitude empática e cuidadosa I
have a caring and empathetic attitude |
5,81 |
,89 |
||
V16 |
Sou uma pessoa culturalmente consciente do outro I am
culturally aware of others |
5,72 |
1,13 |
||
V17 |
Eu gosto de ajudar os outros I enjoy serving others |
6,20 |
1,02 |
||
V18 |
Eu sou mais social, que gosta de estar em grupo,
do que independente / I am more social than independen |
5,00 |
1,54 |
||
V19 |
Eu confio nos outros I trust others |
4,76 |
1,34 |
||
V20 |
Sou focado no grupo I am community focused |
5,05 |
1,24 |
||
V21 |
Eu sou uma pessoa muito positiva I am a very positive
person |
5,01 |
1,38 |
Tabela 2: Estatística
descritiva para os 33 itens da escala dos atributos pessoais (continuação)
Fatores |
Itens |
Alpha
de Cronbach |
Média[7] |
Desvio
Padrão |
|
Liderança
Média = 4,80 |
V22 |
As pessoas me percebem como um
treinador/orientador Other
people considered me to be a coach |
0,841 |
4,68 |
1,35 |
V23 |
Eu sou um líder nato I am a natural leader |
4,36 |
1,45 |
||
V24 |
Outros consideram que tenho uma forma de pensar
estratégica Others consider me to be
strategic in my thinking |
4,90 |
1,43 |
||
V25 |
Eu posso me tornar um líder de destaque em uma organização rentável I can turn a loss leader
into a profitable organization |
5,07 |
1,46 |
||
V26 |
Eu tenho um bom entendimento do negócio I have a good business sense |
5,00 |
1,24 |
||
Assunção
de riscos Média = 5,20 |
V27 |
Sou alguém que assumo riscos I am a risk taker |
0,749 |
5,03 |
1,20 |
V28 |
Sou aventureiro I am adventurous |
5,21 |
1,14 |
||
V29 |
Assumo riscos calculados I take calculated risks |
5,37 |
1,10 |
||
Objetividade Média = 5,63 |
V30 |
Sou muito orientado para o detalhe I am very detailed
oriented |
0,601 |
5,53 |
1,28 |
V31 |
Eu me esforço para ser muito preciso I strive to be very
precise |
5,73 |
1,10 |
||
Postura
Média = 4,52 |
V32 |
Sou uma pessoa muito calma I am a very calm person |
0,671 |
4,94 |
1,47 |
V33 |
Possuo um baixo nível de ansiedade I have a love level of
anxiety |
4,11 |
1,63 |
Fonte: Elaborado pelas
autoras (2017)
O fator que
apresenta maior média foi o “Princípios” (média=5,77), relacionado a crenças e
valores pessoais intrínsecos, como confiança, honestidade, integridade,
veracidade, lealdade e confiabilidade, que não necessariamente são
desenvolvidos durante o curso. Relativamente aos fatores em que os
estudantes obtiveram os menores escores médios, tem-se o fator Liderança (4,8) associado as habilidades pessoais que alguém exibe
na gestão dos negócios e de outras pessoas e o fator Postura
(4,52) relacionado ao comportamento
geral de alguém. Os resultados desses fatores apresentam valores
médios significativamente mais baixos, quando comparados com a pesquisa
realizada por Dawson et al (2011), onde foram obtidos os seguintes escores
médios: fator Liderança (6,00) e fator Postura (5,10).
Acredita-se que esses valores podem ser reflexo da falta de experiência profissional, já
que 89% da amostra encontra-se cursando
a graduação e destes, 41% estão no primeiro ano do curso. Além da
inexperiência, o resultado pode estar também
associado ao motivo da escolha do curso pelos estudantes, que ao invés de terem
escolhido a profissão por sensibilidade ao setor, podem ter associado a escolha
ao bom desempenho do setor do turismo em Portugal, que garante uma abundante
oferta no mercado de trabalho.
Procedeu-se então
à comparação das médias dos fatores que compõem os atributos pessoais em
diferentes grupos de estudantes. Selecionou-se o ciclo de estudo, o ano, a
experiência no ramo da hotelaria e o fato de trabalharem ou não nesse ramo no momento.
Quanto ao ciclo de
estudos, utilizando-se o teste Mann-Whitney
U, os resultados apontam que, quer estudantes da graduação, quer estudantes
do mestrado, tendem a apresentar distribuições do nível de atributos pessoais
semelhantes, sendo o escore médio ligeiramente superior nos estudantes de
mestrado. No entanto, identificaram-se diferenças significativas (p<0,05)
somente nos fatores Princípios e Postura, nos quais os estudantes do mestrado
possuem atributos mais adequados do que os estudantes da graduação (Tabela 3).
Tabela 3: Comparação dos escores da escala de
atributos pessoais de acordo com o ciclo de estudo
Fatores dos AP |
Ciclo |
N |
Média |
DP |
Teste |
Princípios |
Graduação |
100 |
5,73 |
0,68 |
Mann-Whitney
U = 387,5; z=
-2,003; p= 0,045 |
Mestrado |
12 |
6,15 |
0,42 |
||
Receptividade |
Graduação |
100 |
5,42 |
0,86 |
Mann-Whitney
U = 550,0; z=
-0,471; p= 0,638 |
Mestrado |
12 |
5,63 |
0,47 |
||
Liderança |
Graduação |
100 |
4,76 |
1,12 |
Mann-Whitney
U = 459,5; z=
-1,325; p= 0,185 |
Mestrado |
12 |
5,12 |
0,64 |
||
Assunção
de Riscos |
Graduação |
100 |
5,16 |
0,96 |
Mann-Whitney
U = 445,0; z=
-1,467; p= 0,142 |
Mestrado |
12 |
5,58 |
0,67 |
||
Objetividade |
Graduação |
100 |
5,62 |
1,00 |
Mann-Whitney
U = 548,5; z=
-0,492; p= 0,622 |
Mestrado |
12 |
5,71 |
1,12 |
||
Postura |
Graduação |
100 |
4,44 |
1,36 |
Mann-Whitney
U = 365,5; z=
-2,227; p= 0,026 |
Mestrado |
12 |
5,21 |
0,96 |
Nota: N = número de estudantes, DP = desvio-padrão
Fonte: Elaborado pelas
autoras (2017)
Quando comparados
aos resultados esperados para um profissional da indústria da hospitalidade,
segundo os estudos de Dawson et al.
(2011), os estudantes do mestrado se mostraram dentro do esperado em dois
fatores, quais sejam Postura, em que obtiveram escore médio de 5,21, acima dos
4,94 apresentados no estudo original, e Assunção de risco com escore médio de
5,58, ligeiramente superior aos 5,52 apresentados no estudo original.
Tendo em vista os resultados apresentados, pode-se
considerar que a formação pode influenciar significativamente a maneira como o
trabalhador irá se comportar, o controle emocional e a capacidade de se manter tranquilo
em situações adversas. No entanto, se forem comparados os escores médios
totais, pode-se perceber que tanto os estudantes de graduação (5,18), quanto os do mestrado (5,56),
apresentam um nível abaixo do esperado (5,82) para um profissional que seria
bem-sucedido em um ambiente de trabalho que exibe a cultura organizacional da
hospitalidade.
Ao
analisar os estudantes de graduação e o ano que frequentam, utilizando-se o
teste Kruskal-Wallis H, os resultados
apontam para a não existência de diferenças significativas nas distribuições
dos escores em todos os fatores
(Tabela 4). Destaca-se que nos fatores Princípios, Assunção de riscos e
Objetividade, são os estudantes do 3º ano que apresentam um escore ligeiramente
superior ao dos seus colegas de anos anteriores. Já nos fatores Receptividade e
Liderança estes estudantes apresentam níveis médios ligeiramente inferiores aos
dos colegas.
Tabela
4: Comparação dos escores
da escala de atributos pessoais dos estudantes
da graduação de acordo com o ciclo de estudo
Fatores dos AP |
Ano |
N |
Média |
DP |
Teste |
Princípios |
Ano 1 |
41 |
5,55 |
0,62 |
Kruscal-Wallis H(2) =3,966; p= 0,138 |
Ano 2 |
27 |
5,76 |
0,74 |
||
Ano 3 |
32 |
5,93 |
0,65 |
||
Receptividade |
Ano 1 |
41 |
5,44 |
0,83 |
Kruscal-Wallis H(2) =0,614; p= 0,736 |
Ano 2 |
27 |
5,47 |
0,87 |
||
Ano 3 |
32 |
5,36 |
0,90 |
||
Liderança |
Ano 1 |
41 |
4,74 |
0,95 |
Kruscal-Wallis H(2) =1,666; p= 0,435 |
Ano 2 |
27 |
4,99 |
1,38 |
||
Ano 3 |
32 |
4,61 |
1,10 |
||
Assunção
de Riscos |
Ano 1 |
41 |
5,19 |
0,94 |
Kruscal-Wallis H(2) =1,439; p= 0,487 |
Ano 2 |
27 |
5,04 |
1,00 |
||
Ano 3 |
32 |
5,22 |
0,96 |
||
Objetividade |
Ano 1 |
41 |
5,49 |
0,94 |
Kruscal-Wallis H(2) =2,491; p= 0,487 |
Ano 2 |
27 |
5,52 |
1,10 |
||
Ano 3 |
32 |
5,88 |
0,97 |
||
Postura |
Ano 1 |
41 |
4,17 |
1,56 |
Kruscal-Wallis H(2) =4,809; p= 0,090 |
Ano 2 |
27 |
4,98 |
1,05 |
||
Ano 3 |
32 |
4,33 |
1,24 |
Nota: N = número de estudantes, DP = desvio-padrão.
Fonte: Elaborado pelas
autoras (2017)
Estas ligeiras diferenças (não
significativas) podem sinalizar que as atividades desenvolvidas ao longo dos
anos do curso, as unidades curriculares oferecidas e estágios curriculares
planejados não estão contribuindo de forma significativa para desenvolver os
conhecimentos, habilidades e atitudes que levem à realização de um trabalho
condizente ao esperado e adaptação à cultura organizacional da indústria da
hospitalidade. As instituições pesquisadas precisam ter atenção não apenas aos
componentes técnicos do curso (como disciplinas voltadas para gestão, línguas,
economia, entre outras) mas, sobretudo, devem voltar a atenção para atividades
que desenvolvam nos alunos os atributos pessoais favoráveis aos profissionais
desta área. É importante salientar ainda que nos fatores Liderança e Postura,
os valores médios rondam 4 em todos os anos, revelando que é preciso criar
estratégias para desenvolver melhor esses atributos nos estudantes.
Acredita-se
que atividades o mais próximo possível da realidade dessa indústria (como
estágios curriculares em empreendimentos hoteleiros, onde o estudante possa
conviver diariamente com outros profissionais dessa indústria, aprenda a lidar
com as necessidades dos clientes, sentir o clima organizacional e assimilar as
práticas empresariais) possam auxiliar o desenvolvimento e aprimoramento dos
atributos pessoais durante os anos de curso, aumentando assim a empregabilidade
dos estudantes e evitando elevados custos de formação e de integração dos novos
profissionais e, também, a elevada taxa de rotatividade neste setor.
Em
relação à experiência curricular no ramo da hotelaria (Tabela 5), utilizando-se
o teste Mann-Whitney U, constatou-se
que, tanto os estudantes que tiveram uma experiência curricular, quanto os que
não a tiveram, apresentam um razoável nível de atributos pessoais de um
profissional que seria bem sucedido na indústria da hospitalidade (valores
médios entre 4 e 6). Não há diferenças significativas para nenhum dos fatores.
Tabela 5: Escore dos atributos pessoais de acordo com a experiência curricular no ramo da
hotelaria
Fatores dos AP |
Experiência |
N |
Média |
DP |
Teste |
Princípios |
Sim |
25 |
5,86 |
0,61 |
Mann-Whitney
U = 1019,0; z=
-0,479; p= 0,632 |
Não |
87 |
5,75 |
0,69 |
||
Receptividade |
Sim |
25 |
5,38 |
0,81 |
Mann-Whitney
U = 973,5; z=
-0,797; p= 0,425 |
Não |
87 |
5,46 |
0,83 |
||
Liderança |
Sim |
25 |
4,87 |
1,17 |
Mann-Whitney
U = 992,5; z=
-0,666; p= 0,506 |
Não |
87 |
4,78 |
1,07 |
||
Assunção
de Riscos |
Sim |
25 |
5,15 |
1,09 |
Mann-Whitney
U = 1077,0; z=
-0,074; p= 0,941 |
Não |
87 |
5,22 |
0,89 |
||
Objetividade |
Sim |
25 |
5,42 |
1,11 |
Mann-Whitney
U = 919,5; z=
-1,193; p= 0,233 |
Não |
87 |
5,69 |
0,98 |
||
Postura |
Sim |
25 |
4,40 |
1,60 |
Mann-Whitney
U = 1005,0; z=
-0,582; p= 0,561 |
Não |
87 |
4,56 |
1,27 |
Nota: N = número de estudantes, DP = desvio-padrão.
Fonte: Elaborado pelas
autoras (2017)
Tendo em
vista o resultado, pode-se concluir que o estágio curricular, da forma como é
oferecido pelas instituições de ensino, não representa uma atividade que visa
melhorar e/ou desenvolver atributos condizentes com o que é desejado pela
indústria da hospitalidade. Mais uma vez, os fatores que apresentaram os
valores médios mais baixos foram a Liderança e a Postura, com valores que
rondam 4, demonstrando que as instituições precisam investir em criar
estratégias para desenvolver melhor esses atributos nos estudantes, já que a
experiência curricular no ramo não contribui de forma significativa para o
desenvolvimento destes atributos, havendo mesmo, na amostra, alguns fatores em
que o escore médio é inferior nos estudantes com experiência (Receptividade,
Liderança, Assunção de Riscos e Postura).
Por fim,
foi avaliado se o fato de estar trabalhando no momento no ramo da hotelaria
faria com que o estudante possuísse atributos pessoais mais adequados à
indústria da hospitalidade (Tabela 6). Utilizando-se o teste Mann-Whitney U, constatou-se que, apesar
de os estudantes inquiridos que já trabalham na indústria da hospitalidade
possuírem uma média mais elevada do que os que não trabalham nessa indústria,
as diferenças não são significativas para nenhum dos fatores, o que pode estar
sinalizando para o fato de que os estudantes estão trabalhando na indústria da
hospitalidade, mais especificamente em hotéis, pela grande oferta de emprego
nessa indústria e não por afinidade a ela.
Tabela 6: Escore dos atributos pessoais de acordo com
a condição atual de trabalho no ramo da hotelaria
Fatores dos AP |
Trabalho |
N |
Média |
DP |
Teste |
Princípios |
Sim |
24 |
5,84 |
0,63 |
Mann-Whitney U = 971,0; z= -0,604; p=
0,546 |
Não |
88 |
5,76 |
0,68 |
||
Receptividade |
Sim |
24 |
5,45 |
0,97 |
Mann-Whitney U = 1046,5; z= -0,067; p=
0,946 |
Não |
88 |
5,45 |
0,79 |
||
Liderança |
Sim |
24 |
5,07 |
0,94 |
Mann-Whitney U = 892,0; z= -1,166; p=
0,244 |
Não |
88 |
4,73 |
1,12 |
||
Assunção de Riscos |
Sim |
24 |
5,25 |
1,14 |
Mann-Whitney U = 974,5; z= -0,581; p=
0,561 |
Não |
88 |
5,19 |
0,88 |
||
Objetividade |
Sim |
24 |
5,73 |
1,05 |
Mann-Whitney U = 979,5; z= -0,551; p=
0,581 |
Não |
88 |
5,60 |
1,00 |
||
Postura |
Sim |
24 |
4,92 |
1,79 |
Mann-Whitney U = 859,5; z= -1,407; p=
0,159 |
Não |
88 |
4,41 |
1,18 |
Nota: N = número de estudantes, DP = desvio-padrão.
Fonte: Elaborado pelas autoras (2017)
5. CONCLUSÕES
E RECOMENDAÇÕES
Esta investigação teve como objetivo
principal avaliar se os estudantes das instituições de ensino portuguesas,
voltadas para a hospitalidade e gestão hoteleira, possuem as características e
os valores individuais necessários aos profissionais desejados pela indústria
da hospitalidade, ou seja, se ao longo dos anos de curso essas instituições são
capazes desenvolver nos estudantes os atributos pessoais necessários e
desejados aos profissionais dessa indústria.
Por meio de uma análise quantitativa,
utilizando-se um instrumento criado por Dawson et al. (2011), procurou-se
identificar os atributos individuais apresentados pelos estudantes e verificar
se esses atributos estão alinhados com os atributos de uma pessoa que seria
bem-sucedida em um ambiente de trabalho que exibe a cultura da hospitalidade.
No que concerne aos atributos
individuais dos estudantes, os resultados apontam que tanto os estudantes de
graduação quanto os do mestrado têm um razoável nível de atributos pessoais de
um indivíduo que seria bem-sucedido na indústria da hospitalidade, sendo que os
estudantes que frequentam o mestrado apresentaram um resultado ligeiramente
melhor. No entanto, o escore médio dos inquiridos foi um pouco abaixo (5,23) do
esperado para estudantes dessa área (5,82). Os fatores Princípios e Postura
foram os que apresentaram maior diferença quando feita uma comparação entre os
estudantes da graduação e do mestrado.
Adicionalmente, percebeu-se que os três
anos de graduação oferecidos pelas instituições de ensino portuguesas não são
suficientes para o desenvolvimento dos atributos pessoais, uma vez que os
estudantes do terceiro ano não obtiveram um escore médio significativamente
melhor do que os do primeiro ano, ou seja, praticamente não houve melhoria ao
longo dos anos de estudo. No que tange à experiência profissional, poucos
tiveram experiência curricular no ramo da hotelaria, ou atualmente trabalham no
ramo, e o fato de já haver sido realizado um estágio curricular na área não
teve impacto positivo no desenvolvimento dos atributos pessoais desejados.
Os resultados obtidos apontam para a
conclusão de que a formação que os estudantes vêm recebendo não contribui de
forma significativa para a formação de atributos pessoais favoráveis à
indústria da hospitalidade. As instituições de ensino portuguesas,
principalmente ao nível da graduação, precisam criar estratégias capazes de
fazer com que os estudantes desenvolvam os atributos necessários ao trabalho
nessa indústria. Assim, ao entrarem para o mercado de trabalho, estes novos
profissionais não se sentirão frustrados, por não conseguirem se adaptar ao
ambiente e, possivelmente, não deixarão o emprego, aumentando um problema já
existente nessa indústria, que é a alta rotatividade (Baltieri, 2011; Dawson et
al., 2011; Lamonato & Presser, 2015).
Acredita-se que este estudo possa ter
contribuído não somente para que se conheça a realidade portuguesa no que tange
ao desenvolvimento pelos estudantes dos atributos pessoais necessários para o
sucesso na indústria da hospitalidade, como também para alertar as instituições
de ensino sobre como os programas de formação oferecidos estão preparando os
estudantes para se tornarem parte da indústria em que se propuseram a
trabalhar.
Além disso, o instrumento que foi
traduzido no presente estudo pode ser utilizado para replicar a análise
realizada em diferentes países de língua portuguesa. Pode também ser utilizado
por gestores da área de RH nos processos de: 1. seleção de candidatos para a
indústria, uma vez que é possível diagnosticar se o profissional tem potencial
para desenvolver as características e valores desejados por essa indústria
(Tepeci et al., 2002; Dawson et al.,
2011); 2. avaliação dos profissionais que já atuam na organização no intuito de
identificar os atributos que se encontram menos favorecidos e traçar planos
para desenvolvê-los.
Quanto às limitações deste estudo,
considera-se a coleta de dados e, consequentemente, a representatividade da
amostra uma questão que necessita ser melhor trabalhada em estudos posteriores,
pois nem todos os estudantes responderam ao questionário enviado
eletronicamente e algumas instituições de ensino superior optaram por não
participar da investigação. Assim, os resultados não podem ser generalizados a
todos os estudantes das instituições de ensino superior que frequentam o curso
de gestão hoteleira ou equivalente em Portugal. No entanto, considera-se que o
estudo é um bom indicador para análises posteriores.
Por fim, para futuras pesquisas,
sugere-se a realização de um estudo comparativo entre os cursos da indústria da
hospitalidade e outros cursos para verificar se os estudantes da hotelaria
apresentam escores diferentes dos seus colegas de outras áreas científicas.
Também seria interessante realizar um estudo que relacione os atributos pessoais
dos estudantes às suas percepções quanto às características da profissão e ao
seu interesse, permitindo avaliar de que forma a imagem que se tem da profissão
pode estar influenciando a escolha dos estudantes pela profissão.
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Artigo
recebido em: 08/05/2018
Avaliado em: 13/05/2018
Aprovado em: 14/05/2018
[1] Aluna de
doutoramento no ISCTE-IUL. Tem um Mestrado em Gestão e é investigadora
no Information Sciences and Technologies and Architecture Research Center
(ISTAR-IUL) do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Lisboa,
Portugal. Instituição/Afiliação: Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7025-9470 E-mail: adriana.fernandes@iscte.pt
[2] Graduada em psicologia (2013) pela Escola
Bahiana de Medicina e Saúde Pública e tem um mestrado em Gestão de Recursos
Humanos pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Lisboa, Portugal. Instituição/Afiliação: Instituto Universitário de Lisboa
(ISCTE-IUL). E-mail: drielle86@gmail.com
[3] Graduada em Direito
(1999) pela UFMG e em Administração com habilitação em Comércio Exterior (1997)
pela UNA/MG, com especialização em Administração de Recursos Humanos (1999) e
Mestrado em Relações Internacionais (2002) pela Ohio University (EUA). Instituição/Afiliação:
FUNCESI (Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira) – MG. E-mail: lilianponzo@yahoo.com
[4] EMEA (Europe,
the Middle East and Africa) é uma designação geográfica usada principalmente pelas
empresas para descrever seus negócios nessas regiões (Pera, 2016).
[5] Por empreendimentos
turísticos serão considerados hotéis e pousadas (Deloitte, 2016).
[6] Nota: (1) Escala de (1) “discordo totalmente” a (7) “concordo totalmente”.
[7] Nota: (1) Escala de (1) “discordo totalmente” a (7) “concordo totalmente”.